FOGO LENTO
pesquisa artística transdisciplinar

A mulher que se julgava um planeta
sinopse
Um espetáculo para crianças sobre a relação entre ser humano e meio ambiente, com foco na complexa rede de ligações que percorrem, subterraneamente, a vida.
No conto de ficção científica da escritora e física Vandana Singh “The woman who thought she was a planet” uma mulher acorda um dia com a sensação de ser um planeta, e chega, no fim do conto, a voar para o céu e juntar-se com os outros planetas. Tomo como ponto de partida este conto para começarmos a nossa reflexão. Quais são os nossos limites? Onde acaba o nosso corpo e onde começa o meio ambiente? Somos únicos e finitos? E se fôssemos um planeta?
O imaginário surreal do conto e a história de Lynn Margulis, cientista que dedicou a vida a demostrar a teoria endossimbiótica (teoria que demonstra como a cooperação está na base do processo evolutivo dos seres vivos), juntamente com uma série de oficinas em escolas do 1o ciclo, servirão como base para a criação de um espetáculo que coloca em diálogo arte e ciência.
Pesquisa:
Quando Margulis, no âmbito da teoria endossimbiótica, apresentou o conceito de holobionte (um organismo que hospeda muitos outros organismos, um ser plural onde o todo é mais do que o somatório das partes, graças às relações que se criam entre eles) não estava a falar de nenhum ser extraordinário, mas de inúmeros organismos terrestres, incluindo o ser humano.
Parece que a cooperação está estritamente correlacionada com a evolução, mas foi só há 40 anos atrás que a comunidade científica levou realmente a sério a possibilidade de acrescentar a cooperação —além da competição Darwinista— entre os mecanismos de sobrevivência e evolução dos seres vivos. Somos organismos que vivem em simbiose com outros, hospedando-os e, por vezes, retirando com isso proveito próprio. O meio ambiente não é exterior a nós, não há separação, mas infinitas ligações que nos tornam um todo com a natureza. A partir dessa consciência podemos treinar a nossa pluralidade e procurar caminhos para criar conexões sempre novas.
Acredito na importância de partilhar esta ideia com o público mais jovem, que por causa de um sistema escolar altamente competitivo, está cada dia a ser treinado para uma luta solitária e individualista pela sobrevivência.
Para construir uma sociedade feita de pessoas capazes de ter uma relação saudável e regenerativa com o meio ambiente e com os outros seres vivos, precisamos de começar pelo diálogo com as crianças, que têm muito para nos ensinar e relembrar sobre a capacidade de viver em comunicação com quem e com o que nos rodeia.
Espetáculo:
No palco, uma paisagem extraterrestre, tem formas familiares, que por vezes lembram o interior de um corpo. Os habitantes são muito estranhos, na sua forma e consistência: organismos rastejantes, voadores, inspirados na observação ao microscópio de fungos, bactérias e insetos.
Graças às técnicas do teatro de objeto e à sonoplastia os espectadores vão ser transportados dentro de ecossistemas oníricos, populados por criaturas que parecem fantásticas, mas talvez existam.
O cénario, composto por cortinas moveis, decoradas com figuras e formas coloridas, com a ajuda do desenho de luz, vai dar a sensação de atravessar diferentes paisagens, em transformação.
A musicalidade da voz e as possibilidades sonoras dos materiais, vão construir uma composição polifónica que conta as histórias desta mulher que é um planeta.
A equipa transdisciplinar, com o apoio dos cientistas e crianças envolvidos ao longo do processo, vai construir uma obra híbrida, visual e comunicativa que tem diferentes camadas de leitura, na qual criadores e espectadores terão espaço para imaginar futuros possíveis e impossíveis.
Ficha artística:
Coordenação artística, encenação e interpretação: Costanza Givone; Interpretação e manipulação: Clelia Colonna; Escrita do texto e apoio dramatúrgico: Alex Cassal; Cenografia e figurino: Svenja Tiger; Desenho de luz: Rui Azevedo; Som: Henrique Fernandes; Vídeo e design: João Vladimiro; Produção executiva: Francisca Lacerda; Apoio na fase de pesquisa e primeiro estudo: Criatório da Câmara Municipal do Porto; Parcerias: Associação de Pais da Escola do Campo 24 de Agosto; CRL- Central Elétrica; Fogo Lento - Associação Cultural; Galeria da Biodiversidade do Porto, Lugar/Palmilha Dentada, Lu.Ca; Apoios: TMP/Câmara Municipal do Porto, Municipio de Loulé, Casa Varela/Câmara Municipal de Pombal.
Oficinas nas escolas:
Este espetáculo faz parte de um projeto de pesquisa e criação que começou em 2023 e inclui muitas atividades e reflexões.
Não só o nosso intestino e as nossas pestanas são habitadas por bactérias e simbiontes animais, se olhares no parque os simbiontes são omnipresentes. Os trevos e as ervas daninhas têm bolinhas nas suas raízes. São bactérias que fixam o nitrogénio, essenciais para o crescimento saudável num terreno pobre em nitrogénio. E olha para as árvores, até trezentos diferentes simbiontes fúngicos, as micorizzas que notamos como cogumelos, entrelaçam-se com as raízes.
Somos simbiontes num planeta simbiótico, e se prestamos atenção, podemos encontrar simbiosi em todo o lado.“ Lynn Margulis, The symbiotic planet
O processo de criação do espetáculo começa em Janeiro de 2025, através de oficinas performativas que irão circular nas escolas de Porto e Gaia, criadas com a consultoria da Galeria da Biodiversidade do Porto.
Estas oficinas, que poderão ser dinamizadas também nas escolas dos concelhos onde o espetáculo vai ser apresentado, procuram refletir sobre as perguntas que estão na origem do espetáculo:
Quais são os nossos limites? Onde acaba o nosso corpo e onde começa o meio ambiente? Somos únicos e finitos?
Vamos levar as crianças numa viagem ao interior dos seus corpos para refletir sobre quem e o que as habita, para depois ativar a atenção perante o que as rodeia. Vamos falar e experimentar fisicamente o tema da peça, num diálogo criativo com as crianças, que na fase de criação, nos ajudará a construir o texto do espetáculo e, na circulação, será uma oportunidade para mergulhar no universo da peça.
PÚBLICO ALVO: 6-12 anos
NECESSIDADES TÉCNICAS: Espetáculo para sala equipada, rider técnico a definir DURAÇÃO APROX.: 50 minutos
LOTAÇÃO ACONSELHADA: até 150 pessoas
CONTACTOS:
mail: fogolento.cultural@gmail.com telefone: 915951342 (Costanza Givone)
Todas as imagens presentes no dossier são obras de Svenja Tiger, artista convidada a desenvolver o cénario, os figurinos e os objetos do espetáculo.